HOMENAGEM: REI DOMINGOS – UM HERDEIRO E PROPAGADOR DA TRADIÇÃO DO BATUQUE DE UMBIGADA



Viver o universo da cultura afro-brasileira, da infância, encontros familiares regados por festas, orações, cantorias, danças e comidas, traz grandes lembranças de Rei Domingos, propagador da cultura negra e do Batuque de Umbigada.

O batuque de umbigada, também conhecido como tambu ou caiumba, é uma manifestação cultural trazida para o Brasil pelos escravos de origem bantu. Com seus instrumentos como o Tambu, uma espécie de tambor feito de tronco oco de árvore; quinzengue, um tambor mais agudo que faz a marcação rítmica do tambu e nele se apóia; as matracas, que são os paus que batem no tambu do lado oposto do couro; guaiás ou chocalhos de metal em forma de cones ligados, essa manifestação conseguiu se manter através do tempo, passando de geração para geração, graças a personalidades negras, que marcaram época e infuenciaram gerações, como o Rei Domingos, que vivia o batuque. Na dança, ao ritmo do batuque, homens e mulheres formam duas fileiras que se defrontam, encontram-se no centro do salão, fazendo passos variados e terminam com a umbigada.

A imagem de Rei Domingos e dos Mestres do Batuque de Umbigada é referência fundamental para os grupos familiares de batuqueiros e batuqueiras, na reconstrução do passado. Rei Domingos, na prática, foi escola que influenciou o modo de ser e de agir dos membros do grupo, com reconhecida autoridade, na manutenção da estabilidade do grupo. A vida de Rei Domingos e dos Mestres de sua época e seus sucessores, está ligada à memória familiar, em que tios, avós, padrinhos são citados como referência significativa na vida individual e coletiva.

A história de Rei Domingos, influenciou muitas das gerações de batuqueiros de Tietê e região, marcou época como grande batuqueiro, grande sábio, que ensinava muito, e que encantava, como genuíno contador de histórias.

O herdeiro e propagador da tradição do batuque de umbigada, trouxe também o valor da imagem da mulher para os batuqueiros: “Aquela nega descia aqui, descia caquele vestidão comprido(...) A nega vinha balanceando. Do jeito que a nega saía de lá, eu tô tirando uma linha dela aqui. (...) As nega batia ni mim, assim, eu caía com os dois jueio no chão. Enquanto ela virava um peão lá, eu levantava uma roda aqui e batia nela. Sentava no chão, eu tinha uma mulhé, uma mulhé que era um ouro”. (Rei Domingos)

Rei Domingos nasceu em 1892 e faleceu em 1996.